Portas Trancadas de um Castelo

Por Eguinaldo Hélio de Souza

 

Um irmão ofendido é mais inacessível do que uma cidade fortificada, e as discussões são como as portas trancadas de um castelo. (Provérbios 18.19)

Não é fácil reconquistar amizades sinceras depois que as destruímos com nossas palavras e atos. Mesmo após um pedido de perdão e uma reconciliação verdadeira, as coisas podem nunca mais ser as mesmas. Podemos até justificar que o que foi dito, foi dito no calor da batalha, em meio a muitas pressões. Ainda assim, as feridas que provocamos naqueles que amamos podem tornar-se um muro que jamais será transposto.

Bons relacionamentos só podem ser conservados intactos e sadios com muito domínio próprio. A sinceridade não é uma faca com a qual podemos ferir sem cuidado o amor dos que nos amam. Não é uma virtude que nos dá carta branca para dizer “o que nos dá na telha”, fazer o quem bem entendemos sem considerar o outro. Muitas belas amizades, muitas fortes comunhões, foram quebradas e destruídas pela falta de cuidado e temperança. Não foi a espada do Espírito que esteve em nossos lábios, foi a cruel faca da ira e do nervoso que cortou o doce elo que nos unia ao outro. E depois, tentamos com desculpas sinceras concertar o erro, mas não é tão fácil quanto pensamos. O remendo estaria sempre visível e palpável, como uma cicatriz incômoda, lembrando um momento triste que gostaríamos de esquecer completamente. Nem sempre isso é possível.

Nem todos são pais de filhos pródigos, com os braços abertos e a casa pronta para receber você quando retornar. Nem todos enfrentarão filhos discordantes e terão o bezerro cevado para dizer que perdoa. Na maioria das vezes, a comunhão restaurada será uma pálida sombra do que um dia foi uma profunda amizade. As coisas jamais voltarão a ser como antes. O tempo ajuda muito, sem, contudo, fechar a fenda que se fez.

Pense antes de falar. Cale-se se estiver nervoso. Dê tempo ao tempo. E não pense que sinceridade é uma virtude que justifica qualquer coisa. Verdade sem amor, franqueza sem cordialidade, pode destruir em minutos os sentimentos mais belos que levaram anos para serem construídos. Não precisamos de mais muros. Precisamos de mais pontes.

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