Quem Deus é Para Você

Por Eguinaldo Hélio de Souza

 

Claro que Deus intervém constantemente em nossas vidas e age em Sua Providência para trazer proteção, direção, cura, libertação, mudança. É evidente que Ele não nos deixa e não nos desampara, não nos abandona e não nos esquece. Muitas vezes no passado nós vimos Sua mão poderosa e por esse motivo levantamos nossos olhos hoje, aguardando a manifestação da sua bondade.

Eis que assim como os olhos dos servos atentam para a mão do seu senhor, e os olhos das servas para a mão de sua senhora, assim os nossos olhos atentam para o Senhor nosso Deus, até que Ele se compadeça de nós (Salmo 123.2).

No entanto, corremos o sério risco de ver em Deus apenas alguém para resolver nossos problemas, uma espécie de pronto-socorro divino, uma caixa de vidro com um aviso “quebre em caso de emergência”. Se nós O enxergarmos apenas como um mordomo pronto a atender nossos pedidos, sejam eles quais forem, então não estamos vendo corretamente. Ele é o Senhor, Ele é o Soberano, Ele é o Absoluto. Nós somos apenas servos submissos de um Rei bondoso, a quem sim, devemos buscar, mas com temor  e tremor.

Alguém já fez a seguinte comparação: “O cachorro diz para seu dono: Você me acaricia, me alimenta, me abriga, você me ama. Você deve ser Deus. Já o gato diz: Você me acaricia, me alimenta, me abriga, você me ama. Eu devo ser Deus”. A maneira como olhamos para Deus determinará nossas atitudes diante Dele.

Deus é Deus mesmo quando parece calado, mesmo quando parece imóvel. Grande é a distância entre nossa ignorância e a onisciência Dele. Nossa débil força é poeira diante de Sua Onipotência. Devemos pedir, devemos esperar, devemos confiar. Jamais, porém, podemos exigir que Ele se curve aos nossos caprichos ou ao nosso limitado entendimento.

“Ainda que Ele me mate, contudo, Nele esperarei”, disse Jó (Jó 13.15). Essa era a declaração de um homem abençoado e cuidado pelo Senhor, mas que sabia quem ele era e quem era o Seu Deus.

Ele é o Senhor. Eu, apenas um servo que espero em sua misericórdia.


 Que a Graça Não Seja em Vão

Por Eguinaldo Hélio de Souza

A salvação de Deus não é uma coisa qualquer em sua vida. É a coisa mais maravilhosa que poderia ter acontecido. Ele nos tomou a nós, que pertencíamos ao reino das trevas e nos trouxe para o reino do seu Filho (Colossenses 1.13). Ele nos lavou com o sangue de Seu Filho, fez de nós nova criação em Cristo Jesus, nos fez morada do seu Espírito. Ele nos deu vida eterna, fez de nós sua herança, nos destinou a uma eternidade de glória em sua Presença.

E por que Ele fez assim conosco? Por que nos deu tanto de Si? Por que nos amou de tal maneira? O que viu em nós? O que achou em nós além de rebeldia e pecado? Nada. Ele não viu nada em nós. Nenhuma justiça, nenhum merecimento, nada que o obrigasse a fazer por nós coisas tão grandiosas. E ainda assim fez o que fez. Fomos alcançados por sua imensa graça, que pode ser descrito como um amor imerecido. Essa graça imensa fez de nós totalmente outros. Ainda somos pecadores, mas agora, pecadores inundados pela graça.

E que fazer agora com esta graça? Como viveremos nela? Algo grandioso aconteceu conosco, não podemos viver em vão. Não podemos permitir que tal graça seja inútil, que não produza os frutos grandiosos que só ela pode produzir. Mas, pela graça de Deus, sou o que sou, e sua graça para comigo não foi inútil (1 Coríntios 6.10).

Deus fez algo tremendamente especial. Somos um contraste com tudo que está ao nosso redor. E essa transformação não permite que sejamos passivos neste mundo. Fomos transformados para transformar, para tocar o íntimo das pessoas da mesma forma que Ele tocou e mudou nosso íntimo. Não podemos viver da mesma forma, pois sua graça jamais pode ser inútil e vã.

“Como cooperadores de Deus, insistimos com vocês para não receberem em vão a graça de Deus” (2 Coríntios 6.1), nos exortou o apóstolo Paulo. Essa graça poderosa não veio sobre nós apenas para nos transformar, mas também para nos mover. Essa graça imensa não nos alcançou para dormir em nós, mas para nos levar adiante e nos transformar em árvores frutíferas ou mesmo em um pomar.


 Quanto Você Quer do Cordeiro?

Por Eguinaldo Hélio de Souza

Quando Deus tirou o povo do Egito Ele o fez por meio de um cordeiro (Êxodo 12). Esse cordeiro representava Jesus, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (João 1.29). Naquela noite Deus os estava tirando da escravidão para liberdade e cada instrução dada era de extrema importância. Dentre outras coisas o Senhor lhes disse:

Naquela mesma noite comerão a carne assada no fogo, com ervas amargas e pão sem fermento. Não comam a carne crua, nem cozida em água, mas assada no fogo: cabeça, pernas e vísceras. (Êxodo 12.8, 9)

O cordeiro deveria ser comido em sua totalidade e não apenas as partes melhores. Cabeça e vísceras também deveriam ser comidas. Essa foi a ordem.

Muitos querem apenas um pouco de Jesus, o suficiente para se sentirem bem. No entanto, temos de tomar o cordeiro todo. Temos de nos comprometer de forma integral com Jesus, aceitando o preço de segui-lo, de obedecê-lo.

Isto tem seu preço. Precisaremos dizer não para coisas que o mundo aceita. Se queremos romper com as amarras de nosso passado e caminhar em direção às promessas de Deus, temos que assumir compromisso total com o Evangelho.

O evangelho não é composto apenas por músicas bonitas e pregações motivadoras. Sua mensagem é a mensagem da renúncia, da santidade, do sofrimento se isso for necessário. Não é fácil perdoar, não é fácil caminhar ao lado de quem nos ofende, não é fácil deixar hábitos antigos que estão enraizados em nosso coração. Mas é necessário.

Comer o cordeiro todo significava total comprometimento com a proposta divina. Quem quisesse continuar no Egito poderia continuar, mas quem quisesse sair precisava obedecer e provar também as partes menos saborosas.

Não amamos as aflições, não amamos as lutas espirituais, não amamos as exigências divinas que vão contra a nossa natureza humana decaída. Entretanto, amamos a Cristo e por amor a Ele estamos dispostos a experimentar o que não gostamos.

Chega de querer de Jesus somente o que nos satisfaz. Chega de fugir quando as lutas começam e nos defrontamos com os inconvenientes do viver cristão. Não enganemos a nós mesmos. Deus só abriu o Mar Vermelho para os que aceitaram o Cordeiro em sua inteireza. Só os que aceitam as lágrimas comerão os frutos, só os que comprometem plenamente com o Cordeiro reinarão com o Cordeiro.


 Quando Oramos

Por Eguinaldo Hélio de Souza

A simples atitude de orar sempre, já demonstra muita coisa importante. Há uma mensagem para Deus e para o mundo quando dobramos os nossos joelhos e nos dirigimos ao trono do Altíssimo. Só quem não conhece a Deus não ora. Quem o conhece realmente sabe que não pode viver sem oração. E quanto mais o conhecemos e mais conhecemos a nós mesmos, mais sentimos necessidade de buscá-lo.

Orar é uma maneira de dizer a Deus que o amamos. Quando amamos alguém, nós o buscamos, pagamos um preço para estar com ele. Quando estamos ocupados demais para dar atenção, estamos dizendo que outras coisas são mais importantes do que essa pessoa. Quando deixamos nossos afazeres e gastamos tempo com quem dizemos amar, mostramos de fato o quanto tal pessoa é importante para nós. Parar e orar em meio à correria da vida é dizer a Deus que o amamos de tal forma, que tudo o mais é menos importante do que Ele.

Orar é mostrar a Deus que confiamos. Deus já sabe o que precisamos. Sabe até o que vamos pedir. Nada em nós é oculto aos seus olhos. Não há nada que digamos que irá acrescentar algo a Ele. E, no entanto, quando compartilhamos com Deus nossos anseios e necessidades, quando suplicamos sua ajuda, estamos mostrando o quando confiamos Nele, o quanto contamos com Ele. Dessa forma, nossa vida e caminho se ligam e se tornam um só. Essa confiança gera comunhão, gera unidade, gera intimidade.

Orar é uma forma de mostrar que somos incompletos sem Deus. Não existimos para nós, existimos para Ele. Só somos plenos quando estamos Nele. Dependemos Dele da mesma forma que os nossos pulmões dependem de ar e o nosso corpo de água. Ele não é uma opção para a minha alma, Ele é vital para minha existência. Somos menos nós mesmos quando nos distanciamos Dele e completos quando cheios Dele.

Deixar de orar é dizer que há coisas mais importantes do que Deus, é deixar de expressar confiança, é achar que bastamos a nós mesmo quando isso não é verdade. Buscai-me e vivei (Amós 5.4). Buscar a Deus é viver. Não buscá-lo é morrer.


 Quando o Tempo se Encerra

Por Eguinaldo Hélio de Souza

 

Geralmente pensamos que quando Deus nos dá uma tarefa é para sempre. Às vezes isso pode ser verdade, mas nem sempre. Ele pode nos colocar em um determinado lugar, para fazer uma determinada coisa, somente para um tempo determinado. Terminado o tempo, Ele então nos conduzirá a outra tarefa.

Foi o que Elias experimentou. Deus o enviou ao Leste do Jordão, junto ao ribeiro de Querite e ali o sustentou (2 Rs 17.2-6). Entretanto, em um dado momento o ribeiro secou e Deus o enviou para Serepta de Sidon (2 Rs  17.9). E ali ele permaneceu até nova ordem.

É muito fácil nos tornarmos servos da obra de Deus ao invés de servos do Deus da obra. É correto amarmos aquilo que Deus colocou em nossas mãos para fazer. Errado é amar nossa missão mais do que amamos o Deus que a deu. Principalmente quando estamos muito tempo fazendo determinada coisa, na qual já temos experiência e prática, fica difícil nos desligarmos. Queremos continuar junto ao ribeiro de Querite, mesmo que este tenha secado, mesmo que tenha chegado a hora de irmos a outros lugares  para fazer outras coisas.

Temos medo do desconhecido, da mudança, do novo e por isso, quando temos que tomar outra direção, ainda que seja por Deus, tememos. Não aceitamos que o tempo se encerrou. Preferimos as dores daquilo que já conhecemos a experimentar as coisas boas que estão sendo propostas, preferimos o ribeiro seco de Querite à abundância do Líbano. Talvez seja por isso que o poeta Gibran tenha perguntado “e quem pode despedir-se sem tristeza de sua amargura e de sua solidão?” [Gibran Kalil Gibran, O Profeta].

É preciso confiar em Deus para largar aquilo que Ele mesmo nos deu. No entanto, a obra não é nossa, é dele. Nossa vida precisa estar presa em Deus, não na obra que Ele nos entregou por tempo determinado.

Elias sempre soube aceitar as mudanças que Deus fazia em sua vida. Podemos e devemos amar a missão que Ele nos deu. Só não podemos amá-la mais do que a Ele. Ele é a nossa vida. E só Ele. Se a hora chegou, largue o que tem de largar e deixe Deus guiá-lo para onde tem de ir.


 Quando Não Houver Luz

Por Eguinaldo Hélio de Souza

Houve momentos e haverá momentos em que tudo ficará muito escuro. Parecerá não apenas que Deus está em silêncio, mas que também está imóvel, observando nosso sofrimento. Tudo parecerá frio e sem sentido, até mesmo as coisas que sempre nos fortaleceram. Os cânticos, as orações, e mesmo a Palavra não nos ajudarão. Seremos tomados por uma sensação de impotência. Nós, que tantas vezes ajudamos outros com nossas palavras e ações, sentiremos que essas mesmas palavras e ações são incapazes de nos fortalecer e animar.

Eis que ensinaste a muitos e fortaleceste as mãos fracas. As tuas palavras levantaram os que tropeçavam, e os joelhos vacilantes fortificaste. Mas agora que a aflição vem a ti, tu te desanimas; sendo tu tocado, te perturbas. (Jó 4.3-5).

São momentos em que o Vale da Sombra da Morte parece não chegar ao fim e tememos ficar para sempre presos dentro dele. Tentamos achar algum sentido, alguma direção e, no entanto, nada definitivamente alivia nossos corações. Nem mesmo a vara e o cajado do Pastor parecem presentes.

E com tudo isso ainda é possível continuar caminhando. Pois há uma confiança interior que permanece mesmo nos piores vendavais. As lembranças do que Deus já fez não podem ser apagadas por essa escuridão e vazio. Quem Ele é ficou fortemente fixado em nossos corações e nunca, nuca será removido.

Deus não é menos Deus nesses momentos. Nossa escuridão interior não obscurece quem Ele é, pois Ele é luz e não há Nele trevas nenhuma (1 João 1.5), e a verdade é que para Ele as trevas e a luz são a mesma coisa (Salmo 139.12). Nem a mais profunda tristeza da nossa alma pode deixar Deus mais distante de nós. Nenhuma sensação de abandono pode fazer com que Ele nos deixe. As duras experiências interiores não mudam a Deus. Ele sempre será a Rocha  sobre a qual nossa alma poderá se apoiar.

Quando andar em trevas e não tiver luz nenhuma, confie no nome do Senhor e firme-se sobre o seu Deus. (Isaías 50.10)

Nem sempre haverá luz. Contudo, sempre haverá aquele que é a Luz do mundo que só poderá ser visto pela fé dos que Nele confiam.


 Preso do Senhor

Por Eguinaldo Hélio de Souza

Paulo, prisioneiro de Jesus Cristo… (Filemon 1)

 “Preso do Senhor” foi uma expressão usada pelo apóstolo Paulo para se definir a si mesmo. Devido à pregação do Evangelho, ao conflito com grupos religiosos judaicos e com a cultura idólatra do Império Romano, ele foi encarcerado diversas vezes. Viveu parte de seu ministério na cadeia e ali o exerceu.

Em nenhum momento ele enxerga essa situação como um drama. Não há lágrimas, lamentações, murmurações, nem mesmo indagações. “Por que meu Deus?”. Se ele não dissesse, sequer saberíamos que ele estava na cadeia. Sua carta mais alegre (aos filipenses) é uma das epístolas da prisão.

Também não acusou o sistema judicial romano de injusto. Sequer o demonizou. E mais ainda. Ele não se considerava um preso do Império Romano, mas um preso do Senhor. O Senhor, e só o Senhor era o motivo dele estar ali. Sua compreensão do relacionamento Senhor-servo entre ele e Cristo era muito claro. Aquele era o primeiro senhorio sobre sua vida e todas as demais autoridades não passavam de sombra dessa realidade maior que é a soberania de Cristo. Isto é ser de fato, um preso do Senhor.

Muitos têm vivido suas vidas em conflito permanente com a vontade do Senhor. Não é que não sabem qual é a vontade Dele. É que não se renderam à vontade Dele. Não compreendem que acima das circunstâncias humanas e passageiras, está o Plano Dele. Quem está Nele está em Seu Plano. Quem é de Cristo, é prisioneiro de Cristo. E quem é Seu prisioneiro, escolhe as escolhas Dele.

Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, ou vivamos ou morramos, somos do Senhor.” (Romanos 14.8).

A liberdade, sem dúvida, é um valor inestimável e uma condição pela qual temos que lutar. Liberdade de crença, de expressão, de escolha. Todavia, uma prisão em Cristo é liberdade. Liberdade sem Cristo é escravidão. “Porque o que é chamado pelo Senhor, sendo servo, é liberto do Senhor; e, da mesma maneira, também o que é chamado, sendo livre, servo é de Cristo” (1 Coríntios 7.22).

Cristo é a nossa liberdade, seja em mundo livre, seja nas masmorras do Egito, de Roma ou em qualquer lugar do mundo.


 Preparando a Terra

Por Eguinaldo Hélio de Souza

 

Não basta semear. Ou melhor, não adianta semear em uma terra que não está preparada para receber a semente. As vezes queremos dizer as pessoas coisas que elas ainda não estão preparadas  para ouvir. Queremos transmitir ensinos que não surtirão nenhum efeito, não porque não sejam bons, não porque não sejam necessários, mas porque a terra ainda não foi devidamente trabalhada. Não se dá alimentos sólidos aos bebês. Temos que respeitar o ritmo do crescimento de cada um. Foi isto que o apóstolo Paulo percebeu. Dei-lhes leite, e não alimento sólido, pois vocês não estavam em condições de recebê-lo. (1 Coríntios 3.2)

E não adianta reclamar da terra. Nós também somos assim. Deus ainda não nos deu e não nos disse muitas coisas porque nosso coração não está preparado. Ele, como bom agricultor (João 15.1), está arando a terra de nossos corações por anos a fio, aguardando o momento no qual estaremos preparados para receber mais do que é Dele.

Há terras tão duras e solos tão cheios de espinhos que qualquer semeadura neles nada produzirá. Nem mesmo a melhor das sementes produzirá alguma coisa. Apesar das boas palavras que ministraremos, ficaremos frustrados porque nada acontecerá. O problema não é o semeador e nem a semente. O problema é a terra bruta que não está pronta para ambos.

Deus sabia disso quando enviou Jeremias para profetizar. Ele disse através do profeta:

“Lavrem seus campos não arados e não semeiem entre espinhos” (Jeremias 4.3).

Há pessoas que um dia se tornarão árvores frutíferas. Há pessoas que um dia receberão a Palavra com um coração bom e honesto, dando fruto com perseverança (Lucas 8.15). No entanto, hoje elas não passam de solo pedregoso e espinhoso. Há necessidade de um processo interior de aragem e limpeza. E esse processo está em andamento. Até que cheguem os dias nos quais toda Palavra aí semeada dará fruto para a glória de Deus.

Cabe a nós esperar e deixar Deus agir, seja de forma direta, seja de forma indireta através de nós, tornando-nos antes de semeadores, instrumentos que irão preparar as terras dos corações.


 Precisamos Superar

Por  Eguinaldo Hélio de Souza

mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. (Filipenses 3.13).

 

Algumas coisas não são fáceis de deixar para trás, não são fáceis de esquecer. Mas é preciso. Ou não conseguiremos avançar. Precisamos superá-las, precisamos ir além. Jamais poderemos alterar o passado, mas podemos evitar que ele altere o nosso presente e nosso futuro.

Certo jovem seminarista tinha horror que alguém lhe tocasse a orelha. Em uma ocasião, por brincadeiras, dois amigos o seguraram para que um terceiro lhe tocasse nessa parte do corpo. Ele ficou tão enfurecido que bateu nos três. Em outra ocasião perdeu uma namorada porque em um momento de carinho esta lhe tocou a orelha – e ele bateu nela.

Anos depois reencontrou um amigo do seminário e pediu que esse lhe tocasse na orelha. O outro, não queria fazê-lo, mas o fez com muito cuidado. Nada aconteceu. Ele estava curado. Descobriu que seu trauma vinha da tenra infância, quando seu padrasto o castigava, levantando-o pelas orelhas. Ele teve que admitir a verdade: aqueles que  agora tocavam sua orelha não eram seu padrasto.

Essa história mostra como podemos ficar presos ao passado. Quantas noivas abandonadas não mais se permitem amar e ser amadas. Quantas pessoas rejeitadas na infância, continuam se sentindo rejeitadas apesar de tão amadas. Muitos dos que fracassaram no passado, agora se recusam a lutar. A vida não acabou, mas eles acabaram com ela. Os sofrimentos do passado não lhe trouxeram sabedoria e prudência. Trouxeram medo e desconfiança.

O importante não é quantas vezes você caiu e sim quantas vezes se levantou. Pedro negou a Jesus um dia. Algum tempo depois o estava confessando diante das grandes autoridades, até que por fim, morreu  por Ele.

Não é uma opção. Temos que superar, temos que avançar, temos que  vencer. Lembre-se de José. Ele foi rejeitado, traído, injustiçado e esquecido. E depois, abençoado, perdoou seus ofensores. E por fim tornou-se o abençoador de seus irmãos.


 Precisamos Ser Quebrantados

Por Eguinaldo Hélio de Souza

           

Perto está o Senhor dos que têm um coração quebrantado, e salva os contritos de espírito (Salmo 34.18)

 

Não é fácil descrever o que é ser quebrantado. E, no entanto, nas Escrituras, um coração quebrantado é sempre elogiado como algo bom. Ter um coração quebrantado é uma experiência interior, íntima, que só quem possui sabe o que significa.

Podemos tomar Jacó no vau de Jaboque como um exemplo. Aquele Jacó que havia enganado seu pai, seu irmão e em parte seu sogro, agora estava com medo do encontro com seu irmão Esaú. Ficou só em Jaboque e ali lutou com Deus (Gênesis 32.22-31). E qual foi o resultado desse encontro? “E, vendo que não prevalecia contra ele, tocou a juntura de sua coxa; e se deslocou a juntura da coxa de Jacó, lutando com ele. E saiu-lhe o sol, quando passou a Peniel; e manquejava da sua coxa”. (v. 25, 31).

Não foi apenas a junta de seus ossos que foi deslocada. Seu íntimo foi quebrantado. Sua fraqueza externa refletia sua fraqueza interna. Ele agora seria um homem dependente. Uma pessoa quebrantada é alguém cujo orgulho, a autossuficiência e a confiança em si mesmo foram substituídas pela dependência e pela confiança em Deus.

Quando estamos quebrantados nos tornamos sensíveis à voz de Deus. Ao leve toque de Suas mãos nos curvamos. Sua vontade para nós é absoluta. Nada mais importa do que obedecê-lo. Um sentimento de reverência, de temor, de respeito em Sua presença nos invade. E é este coração quebrantado que atrai o olhar de Deus. “É para este que olharei; para o humilde e contrito de espírito, e o que treme da minha palavra” (Isaías 66.2)

A coxa deslocada da Jacó, a idade avançada de Moisés, o espinho na carne de Paulo – eram situações que aparentemente limitavam a vida desses grandes servos de Deus. E, no entanto, essas fraquezas permitiam o fluir do poder de Deus.

É muito mais que um senso de fraqueza. É fraqueza que produz abertura para o agir de Deus. Deixamos de lado a confiança em nós mesmos e confiamos Naquele que pode todas as coisas.

Um coração quebrantado move o coração de Deus. Um coração quebrantado trás o céu para nós.