Natal, Deus em Missão

 

Deus teve um único Filho e fez dele um missionário. David Livingstone (1813 – 1873)

Muitos foram e são aqueles que deixando sua terra natal e seus parentes, partem para terras distantes para falar do amor de Deus. Eles renunciam qualquer outro futuro possível para si mesmos, para oferecer a outros um futuro eterno que é dado em Cristo. Muitos trocam uma vida de confortos e comodidades por uma vida de privação e simplicidade. Fazem isso em meio à críticas e incompreensão daqueles que os rodeiam. O chamado Daquele que os envia é muito mais forte.

No entanto, nenhum desses que partiram em missão fizeram, fazem ou farão renúncia maior do que Aquele que lhes inspirou. Jesus não os inspirou a tal entrega somente com suas poderosas palavras. Ele os inspirou com sua própria vida, esvaziada da plenitude divina e tornada igual à nossa.

“Mas conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que sendo rico se fez pobre, para que por sua pobreza, enriquecêsseis” (2 Coríntios 8.9).

Não há dúvidas de que deixar um confortável apartamento com seu ar condicionado na cidade, para morar em uma pequena aldeia no interior da África ou da Índia, prova o grande amor que move alguém. Deixar os conhecidos que tanto amamos para nos dedicar a estranhos que decidimos amar é de uma nobreza rara neste mundo egoísta. E com tudo isto, Ele ainda fez muito mais.

Ele deixou sua glória, uma posição e um lugar que nossas palavras são insuficientes para descrever e nossa imaginação incapaz de alcançar, para torna-se um carpinteiro humilde da vila de uma pequena província romana. Ele realizou “o exemplo mais espetacular de identificação cultural da história da humanidade”. Não para falar da vida eterna, mas para ser Ele mesmo a vida eterna que tantos anseiam. Das maiores alturas aos lugares mais baixos da terra, Ele experimentou em si mesmo todas as dores, aflições e angústias que de fato não precisava experimentar.

Ele era diferente de nós como ninguém mais. Tornou-se em tudo semelhante a nós porque nos amou como ninguém mais. O natal é o símbolo desta missão. Deus Pai enviou a nós seu Filho que por nós se entregou.

Essa missão foi a redenção do universo e esse “missionário” o Redentor do mundo.


 Dois Sentimentos

 

“Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor. Mas julgo mais necessário, por amor de vós, ficar na carne”. (Filipenses 1.23, 24)

Diante da volta do Senhor dois sentimentos se conflitam em nosso interior.

Por um lado desejamos partir e estar com Cristo. Sua voz nos chama para o alto, para a eternidade. Não somos deste mundo e o anseio de nossa alma é estar em nossa morada, caminhar em nossa cidade, viver em nossa pátria celestial. “Porque a nossa cidade está nos céus” (Filipenses 3.20). Ele foi preparar nosso lugar.

Estar agora com o Senhor seria o nosso lucro. Por mais abençoada que seja nossa vida aqui, estar com Ele seria muito, muito melhor. Disso temos certeza. Quanto mais crescemos em Cristo, mais sabemos que nosso descanso não será aqui. As trevas cobrem a terra e a escuridão os povos. Sabemos que nenhuma plenitude aqui é possível.

Todavia, isto não é tudo. Outro sentimento se apossa do coração do verdadeiro crente. Um sentimento o divide. O sentimento de que está neste mundo para realizar uma missão com Deus, de que há uma tarefa não terminada e que precisa ser concluída antes que Ele volte ou que nosso fôlego cesse. Estamos aqui de passagem, mas não por acaso. Estamos na causa Dele.

Se a paixão por Cristo nos move em nosso ministério, então não há apenas uma força que nos puxa para cima. Há também uma que nos puxa para a terra, para a obra, para a seara do Mestre. Então não queremos parar, não queremos descansar. Queremos semear e ver a terra frutificar. Mesmo chorando queremos caminhar nesta terra para a glória de Deus.

São almas que precisam de salvação, crentes que precisam de edificação, vidas necessitando de amor e o Espírito de Cristo em nós anseia por suprir essas necessidades. Queremos servir, queremos produzir, queremos frutificar. Minha obra ainda não terminou. Eu quero ficar aqui.

Quero ir e quero ficar. Quero o céu e quero a terra. Quero ver a face do meu Deus, mas também quero ser Sua face neste mundo.

Nem toda divisão interior é boa. Mas esta mostra que seja no céu seja na terra o anseio da minha vida é glorificar o nome Dele.


 Terminando Bem

“Porque Demas me desamparou, amando o presente século, e foi para Tessalônica” … (2 Timóteo 4.10)

Não basta um encontro abençoado com Deus em algum momento de nossas vidas. Não basta nem mesmo anos ou décadas servindo ao Senhor. Nem ainda um ministério muito frutífero por um bom período de nossas vidas é o suficiente. Precisamos chegar bem até o fim. Precisamos terminar com êxito nossas carreiras. Não podemos permitir que o tempo destrua nossa relação com Deus ou que as circunstâncias ao longo dos anos queime nossas raízes e mate nossos frutos. A missão de Deus em nossa vida não tem prazo de validade. Nosso contrato com o Reino é permanente. A vida de Cristo em nós é eterna e eterna deve ser nossa frutificação.

Não nos alegra ver nas Escrituras pessoas que começaram sua caminhada de modo tão maravilhoso e terminaram de forma tão angustiante. Quem não fica perplexo diante da atitude de Salomão em seus dias finais? Nós nos recusamos a acreditar que tanta sabedoria não lhe acompanhou até o túmulo. E Judas? Como pode cometer tal vileza depois de tantos anos com o Mestre? Com certeza não foi culpa do Semeador e muito menos da semente. O solo era realmente ruim.

Quem nos alegra são os que perseveram até o fim. Combateram seu bom combate, acabaram suas carreiras e guardaram sua fé. Morreram amando a Deus com o mesmo amor que O haviam amado desde o início. Serviram a Ele com a mesma força, o mesmo zelo, o mesmo ânimo, até o fim. O tempo não apagou de seus corações o fogo que fora aceso pelo próprio Deus. Suas vidas terrenas terminaram, mas a chama delas continuou a arder após suas mortes. Eles terminaram bem. E nós podemos.

O espírito não é como a matéria. Esta com certeza se corromperá com a idade, enquanto nosso interior pode se tornar mais forte a cada ano. “Por isso, não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia” (1 Coríntios 4.16).

Aquele que começou em você a boa obra é poderoso para aperfeiçoá-la até o dia de Jesus Cristo. A graça que alcançou você é a mesma que o levará frutífero até o fim.