Por Eguinaldo Hélio de Souza
Há uma solidão que fere o coração humano e que o arrasta para o fundo, para baixo. Não importa quantos estejam ao seu redor, ele se sente sozinho e abandonado, vazio e angustiado, nada e nem ninguém o preenche. Ele se sente só seja em uma festa, eu seu trabalho, em qualquer lugar, independente de quantos estejam ao seu redor. Ele se sente só em meio ao 7 bilhões de habitantes no planeta.
Porque nos criastes para vós e nosso coração vive inquieto enquanto não repousa em vós, escreveu Agostinho no quinto século. E isso continua sendo verdade hoje. Corações que vivem longe de Deus, alienados de Deus, permanecem inquietos e solitários. Essa é a solidão humana. É quando a alma se sente abraçada por Deus em seu amor que essa solidão cessa.
Há, porém, outra solidão. A solidão que deve ser buscada, ansiada, desejada. O tempo de estar sozinho com Deus. Esse é um tempo bom, abençoado, em que nos colocamos diante de Deus com nossas lutas e saímos dessa solidão renovados.
É dito que Jacó, porém, ficou só, e lutou com ele um homem até o romper do dia (Gênesis 32.24). Naquele dia não mudou apenas seu nome para Israel, mas mudou a essência de seu ser, mudou destino.
Até mesmo sobre Jesus nós lemos: E, levantando-se de manhã muito cedo, estando ainda escuro, saiu, e foi para um lugar deserto, e ali orava (Marcos 1.35). Era nessa solidão que Jesus encontrava forças para abençoar as multidões. Como disse Henry Nowen, levar uma vida cristã significa viver no mundo sem ser dele. É na solidão que essa liberdade interior se fortalece.
Só você e Deus. Renunciando a companhia humana para desfrutar da companhia divina. Quem já experimentou momentos especiais como esse, em que tudo o mais silencia e só nossa alma dialoga com Deus, sabe o quanto isso é bom e abençoador. Há momentos de se buscar a Deus com nossos os irmãos. Há momentos de se buscar a Deus com a família. Há momentos de se buscar a Deus sozinho. E estes momentos são talvez os preciosos.
Quando passeamos pelas páginas da história da Igreja vemos que inúmeros foram aqueles que aprenderam que na solidão há força. Não a solidão não redimida, mas a solidão dos redimidos que aprenderam que o melhor refúgio é Deus.
Como escreveu A.D. Serdilange:
O retiro é o laboratório do espírito. A solidão interior e o silêncio são suas duas asas. Todas as grandes obras foram preparadas no deserto, inclusive a redenção do mundo.
Outra palavra abençoada sobre isso vem do século XV, nas palavras de Tomás de Kempis, alguém que já havia dito que ninguém sai com segurança em público, senão quem aprendeu a se esconder:
Enfada-me, muitas vezes, ler e ouvir tantas coisas; em Vós se encontra quanto quero e desejo. Calem-se todos os doutores; emudeçam as criaturas todas em Vossa presença; falai-me Vós só.
E para terminar, uma palavra do profeta Jeremias, um gigante espiritual que enfrentou toda uma nação e venceu. Muitas vezes ele se viu em solidões forçadas, mas era nas solidões voluntárias que ele sabia que poderia encontrar a Deus e ao seu poder.
Bom é o Senhor para os que se atêm a ele, para a alma que o busca. Bom é ter esperança e aguardar em silêncio a salvação do Senhor. Bom é para o homem (…) assentar-se solitário e ficar em silêncio (Lamentações 3. 26 – 28).