“Louvado seja o nome de Deus para todo o sempre; a sabedoria e o poder a ele pertencem. Ele muda as épocas e as estações” (Daniel 2.20, 21)
É muito bom ter renovadas as esperanças, comprometer-se novamente com coisas boas, acreditar em um amanhã melhor. É bom clamar a Deus por nosso futuro, pois todo ele está em Suas mãos Onipotentes. Ele é o nosso Deus e por nossa fé Nele estamos em pé. Ainda assim, não podemos confundir o Deus do Futuro com o mero calendário. Nossa fé se apoia nas verdades reveladas por Ele, não em superstições vãs criadas pela mente humana.
Deus não precisa da mudança de calendário para trazer suas transformações em nossa vida. Não é o tempo que determina suas ações. São as ações Dele que determinam os tempos e as estações. O tempo não muda Deus. Deus muda tudo. Nele deve estar nossa esperança e não nas alterações do calendário. Não confiamos no amanhã como se esse fosse um ser onipotente cujos planos nós seguimos. Deus é o nosso amanhã e é Nele que confiamos.
Também não devemos nos iludir como se o futuro que traz sorrisos, também não trouxesse lágrimas. O amanhã chegará com momentos de paz, mas também nos trará a guerra. Riremos e choraremos; cairemos e levantaremos; ganharemos e perderemos. Receberemos porções maravilhosas da graça divina e repreensões severas sem as quais não ajustamos os nossos caminhos. Em alguns momentos sentiremos Sua força nos levantando e guiando. Outra vezes sentiremos nossas limitações e o silêncio Dele afligirá a nossa alma. Dia e noite, calor e frio, sol e chuva, amor e dor. Assim tem sido e assim será enquanto caminharmos neste mundo.
Deitaremos em verdes pastos e águas tranquilas, mas também empunharemos a espada para lutar contra nós mesmos, contra o mundo e o inimigo. Cantaremos louvores de triunfo e choraremos escondidos de joelhos na quietude de nossos quartos. Vacilaremos em nossa fé, mas também a ergueremos diante da Palavra Fiel que vem Dele.
Temos que aprender a elevar a nossa alma até Seu Trono, que não pode ser abalado e nem sujeito àquilo que é passageiro. Devemos lutar neste mundo, mas ter os olhos no alto, pois a âncora só funciona quando firmada naquilo que permanece. E tudo passa. Ele permanece para sempre.
Levantai-vos e andai porque não será aqui o vosso descanso (Miquéias 2.10)
Aqui neste mundo, nunca chegará o dia em que a luta cessará completamente. Nunca existirá o momento em que poderemos abaixar as armas, guardar o escudo e ir para casa para jamais pensar em batalha. Essa é uma dádiva do mundo futuro, ao qual ainda não chegamos. Neste chão em que pisamos a luta é incessante. Temos que acordar todos os dias pela manhã prontos para a peleja. Nossa vitória definitiva está mais à frente.
Não estou dizendo que o corpo não descanse, ou que nosso coração nunca tem paz, ou que devemos viver em ansiedade. Isso não seria bíblico. Deus é descanso e Nele repousamos em meio às batalhas da vida. Mas nosso descanso é o meio para recuperar as forças, nossa paz é em meio à guerra e nossas ansiedades têm que ser levadas ao Senhor porque nossas preocupações não garantem nosso avanço e sim o Deus em quem confiamos.
A verdade é que a luta da carne contra o espírito nunca cessa. O príncipe deste mundo nunca dorme e o tempo não o deixou menos cruel e perigoso. O mundo, nunca nos amará, não importa quão cheios de Deus sejamos, ou quantas boas obras façamos. Definitivamente, este tempo e este mundo não são nossos, pois nosso tempo e nosso lar habitam na eternidade. “Não temos aqui cidade permanente, pois buscamos a futura” (Hebreus 13.14)
Por isso, precisamos levantar e andar, “tornar a levantar as mãos cansadas e os joelhos desfalecidos” (Hebreus 12.12), esforçar-nos e clamar (Gálatas 4.27). Temos que nos fortalecer no Senhor e na força do seu poder (Efésios 6.10), temos que combater o bom combate da fé (1 Timóteo 6.12). Temos que vigiar e orar, porque apesar de nosso espírito estar pronto para ouvir e obedecer, nossa natureza humana decaída, que a Bíblia chama de carne, inclina-se para longe de Deus.
Enquanto a última trombeta não soar e nossos corpos não forem transformados (1 Coríntios 15.52), a trombeta que ouvimos é aquela que nos chama para a luta contra nós mesmos, contra satanás e seus demônios, contra o mundo que procura nos moldar.
Lutar por nosso relacionamento com Deus, lutar por nosso casamento, nossos filhos e família, lutar pelo Evangelho e pelo Reino, são realidades permanentes sobre as quais nunca podemos descuidar.
Não é força de expressão. É a pura verdade. Não há ramos sem a videira, não há vida, não há fruto, não há sequer flores. Não há nada sem Ti.
Se não me deres, não tenho. Se não me ensinares, não sei. Se não me sustentares, eu caio, se não me enviares não vou. Se não me falares, não ouço, se não me iluminares não vejo. Se não me alimentares, não cresço e adoeço se não me curares. Se não me reacenderes, apago. Se não me ergueres permanecerei prostrado, se não me encontrares estarei perdido.
Se não me guiares me perco, se não me impulsionares não ando, se não me livrares, pereço. Sem a tua Vida sou morto, sem a tua Luz sou Cego, sem o teu sopro em minhas narinas eu nem sequer respiro.
Tua és a força em mim, a sabedoria em mim, o amor em mim. És meu brilho, meu fôlego, meu respirar. Por Ti se renovam minhas folhas, brotam minhas flores, surgem meus frutos. Nada disso há sem Ti. É assim que funciona a vida e também a Vida em Ti.
Dependemos de Ti como o galho depende da árvore que o sustenta.
Ah! Senhor, como eu dependo de Ti. E isso é vida! Nada melhor do que depender de uma Luz que não apaga, de uma Fonte, que não seca, de uma Força que não se esgota, de um Deus que nunca muda! Uma vez conectados, viveremos para sempre no fluxo incessante e eterno do teu Ser. Como a planta à beira d’água em frescor inesgotável. Como a Lua em frente ao Sol recebendo de uma luz que nunca mingua.
E ainda que a morte, envelheça e enfraqueça tudo em mim, renovado eu serei pela Seiva que há em Ti. E mesmo que ao pó retorne um dia, um dia eu também, em Ti renascerei, ressurreto pelo som da Tua Voz. E então e para sempre viverei ainda mais perto. Tu em mim e eu em Ti para sempre estarei.
Que eu sinta, que eu pense, que eu queira e que deseje somente o que vem de Ti. Que eu fale tuas palavras. Que eu me mova em teu mover. Que eu seja um contigo, existindo em quem Tu és.
Que nada neste mundo me impeça um tal viver. Que eu aprenda a cada dia depender assim de Ti e que viva cada instante, no brilho cintilante, na eternidade de teu Ser
Imediatamente Jesus estendeu a mão e o segurou. E disse: “Homem de pequena fé, por que você duvidou?” (Mateus 14.31)
Sei que você confia no Senhor. Do contrário, não estaria aqui lendo essas linhas. Se não confiasse no Senhor sequer dobraria os joelhos para buscar a Ele. Você só o busca porque um dia O encontrou. Só quem O conhece O deseja ainda mais.
Ainda assim, sua confiança caminha carregando o medo e a ansiedade. Suas certezas são marcadas de incertezas. Você o invoca, mas não descansa Nele, você ora e retorna com as mesmas ansiedades. Você sabe que sua vida é totalmente Dele e mesmo assim ainda teme o amanhã. Apesar de tantas coisas sobrenaturais que Ele fez em sua história, você olha tudo com os olhos naturais. Sua vida está escondida com Cristo em Deus, enquanto você vive nesta terra como se a ela pertencesse.
Você crê e desconfia, você ora e não descansa, você clama e ao mesmo tempo tenta resolver todas as coisas como se elas estivessem em suas mãos. Você sabe que Ele é o Onipotente e questiona se realmente Ele fará. Você sabe que Ele é o Onipresente e se sente em solidão. Sabe que Ele é o Onisciente e pergunta se Ele ouviu sua oração.
Este misto de certeza e incerteza é a luta do Espírito contra carne, da Palavra contra o mundo, do novo contra o velho homem. Nesta terra decaída e nesta vida corrompida a batalha não tem fim. Só morrendo é que se vive e diminuindo é que se cresce. Menos de nós e mais Dele, menos mundo e mais Palavra, menos carne e mais Espírito.
Sua voz nos chama sobre as águas e no meio do caminho sopra o medo e nos afunda. Nosso olhar não está mais Nele, a forte dúvida nos faz submergir. E ainda assim seu braço estende e nos mostra que as nossas limitações jamais mudarão quem Ele é. A força do seu braço nos levanta e a voz da Sua Palavra nos fará chegar onde convém.
Nesta terra decaída, cada dia nos será uma lição de confiança. Mesmo afundando e caindo aprenderemos cada vez um pouco que vale a pena confiar no Senhor.
E disse-lhe: Por Deus, me jura que me não matarás, nem me entregarás na mão de meu senhor, e, descendo, te guiarei a essa tropa. E, descendo, o guiou. (1 Sm 30.15, 16)
O inimigo atacou Davi e seus homens, destruindo tudo o que tinham, levando suas mulheres e filhos. Choraram até não poder mais e culparam Davi. Ele se fortaleceu em Deus, foram atrás dos inimigos e encontraram alguém que os ajudou a reconquistar tudo. Este é um resumo da história de 1 Samuel 30.
Talvez, tudo o que você consegue enxergar agora seja dor e aflição. Você não vê portas ou caminhos que possam leva-lo adiante. A angústia é grande e nossa tendência nessas horas é achar que tudo acabou e que não há escape. O desespero nos cega, nos ensurdece, nos paralisa, nos amarra.
Podemos chorar como eles choraram. Até devemos, pois faz parte de nossa natureza e o choro é terapêutico. Ainda assim, só chorar não basta. Isso não vai solucionar a questão.
Podermos reclamar com Deus, como eles provavelmente fizeram, dizendo que não mereciam o que aconteceu. Todavia, o Deus perfeito no qual cremos é livre de qualquer mancha. Culpá-lo é tolice e perda de tempo.
Podemos culpar outros, que podem ou não ser culpados. No entanto, isso também não resolverá a questão. Nossa péssima mania de culpar os outros, não só nos impede de assumir nossa própria culpa, como nos impede de tomar as medidas necessárias. Culpar a outros muitas vezes é uma desculpa para não fazer nada.
Ou podemos ter uma atitude completamente diferente. Podemos reagir em Deus como fez Davi.
Podemos buscar Nele as forças que nunca se esgotam. Pois de nada nos valerá uma fonte inesgotável, com águas cristalinas que não são bebidas; de nada adiantará a água para a nossa sede se não formos em direção a elas para sorvê-las abundantemente. Vã é a mesa farta para nossa fome, se não nos assentar e comermos aquilo que nos está sendo oferecido gratuitamente. Morreremos de fome junto ao banquete e de sede junto à fonte.
Podemos buscar palavras e direções de Deus, crendo que temos um Deus que fala e dirige nossos passos. É preciso confiar Nele e tomar uma atitude que de fato reflita essa confiança. É preciso fazer isso, mesmo que ninguém mais faça.
Eles só encontraram aquele rapaz que os guiou até a reconquista porque se levantaram e foram em frente. Deus preparou aquele moço, que eles jamais encontrariam se tivessem ficado prostrados e chorando.
É preciso que você caminhe, siga em frente, mesmo com lágrimas nos olhos, nó na garganta e aperto no peito. Porque ali mais a frente há ajuda de Deus esperando. É caminhando até lá que experimentaremos a Providência Divina.
Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros, principalmente os pergaminhos. (2 Tm 4.13)
Em seu último escrito o apóstolo ainda pensa em livros! Ler é uma paixão de muitos e muitos cristãos em seu amor às Escrituras tornaram-se grandes e bons leitores. Alguns são verdadeiros devoradores de livros. Esse é um hábito saudável que deveria ser cultivado ainda mais por todos aqueles que almejam uma vida espiritual vigorosa aliada ao conhecimento da Palavra. Como escreveu Henry Thoreau, os livros são o tesouro precioso do mundo e a digna herança das gerações e nações. (…) Quantos homens terão começado uma nova era em sua vida depois da leitura de um livro.[1]E se pensarmos na influência de Thoreau sobre Gandhi, então ele tinha razão.
Gostaria por isso de compartilhar algumas coisas sobre livros e leituras aprendidas ao longo dos anos.
Existe a Bíblia e os demais livros. Nenhum livro pode ocupar em nossa vida o espaço que pertence às Escrituras. Todas as verdades mais profundas, ou são dela derivadas ou estão em concordância com ela. Ela e somente ela é a Palavra de Deus, o pão, a espada, a luz, sem a qual viveremos neste mundo, famintos, desarmados e no escuro. Não basta ler acerca de Bíblia. Temos de ler a Bíblia se desejamos de fato ser alimentados, fortalecidos e guiados. Se você não tem tempo para a Palavra de Deus, então é melhor que não tenha tempo para nenhum outro livro. Quanto amo a tua lei! Nela medito o dia todo. (Sl 119.97)
Ler livros, mais do que ter livros. Uma grande tentação neste nosso mundo consumista e onde a publicidade nos bombardeira em todo momento e em todo lugar, é acumular livros que nunca iremos ler. Diferente de um CD ou mesmo vídeo do qual somos ouvintes passivos, o livro exige de nós esforço, atenção. Precisamos de tempo, concentração, envolvimento real e profundo com o seu conteúdo. Não compre livros que não pretende realmente ler. Os livros só terão efeito em sua vida se você de fato absorver seu conteúdo. Faça um plano de leitura anual dentro de sua capacidade e disponibilidade de leitura. Como a baliza em uma piscina, você conhecerá seus limites e guardará seu foco.
Conheça quem escreve. Não compre livros às cegas. Se alguém de confiança e capacidade o indicou para você, então possivelmente valerá a pena ler. Ainda assim, procure saber sobre o autor e sobre o livro. O que pensa o autor? Que outros livros escreveu ele? Qual sua história? O que ele realizou? Por trás de um livro há uma vida, com a qual vamos interagir na leitura. Devemos ser cuidadosos com quem teremos comunhão. A leitura desordenada entorpece o espírito, ao invés de alimentá-lo (Sertilange).
Erudição e beleza não são a mesma coisa que verdade. Escrever bem e bonito, não é o mesmo que escrever a verdade. Muitos já se desviaram das verdades bíblicas, seduzidos pelo conhecimento e pela retórica. Marx e Nietzsche foram grandes pensadores e grandes escritores, mas nem por isso são verdadeiros. O veneno também pode ser saboroso e pode ser vendido em frascos bonitos. Vivemos em meio a uma geração, de cristãos e não cristãos, que estão embriagados por uma literatura de pensadores e teólogos que está longe de ser sadia e bíblica.
Suas leituras em certa medida definem você. Leia o que está de acordo com o seu chamado. Embora possamos ser edificados lendo a respeito de vários assuntos, existem aqueles que se harmonizam com nosso chamado. Missionários lerão sobre missões, pastores sobre cuidado pastoral, ministros de louvor sobre música e adoração, e assim por diante. Se você já sabe sobre seu ministério, seu chamado e seus dons, pode focar melhor suas leituras. Jamais teremos tempo de ler tudo que queremos, portanto, temos de ser seletivos. Como escreveu Sertilange: Estabeleçam sua rota e não sigam na esteira do que for aparecendo pela frente.[2]
Livros são só livros. Ler um livro é só um passo, não é um caminho percorrido. Não podemos achar que só porque lemos a respeito de um assunto, aprendemos o assunto. Ler livros sobre oração não me torna um homem de oração. Ler livros de homilética não tornam um pregador. Nenhum livro, por melhor que seja, é um fim em si mesmo. Ele não passa de uma pequena luz.
Como escreveu A.W. Tozer: Requer um esforço determinado da mente livrar-nos do erro de fazer dos livros e dos mestres fins em si mesmos. A pior coisa que um livro pode fazer pelo cristão é deixa-lo com a impressão de que recebeu dele alguma coisa realmente boa; o melhor que pode fazer é apontar o caminho para o Bem que ele está procurando. A função de um bom livro é postar-se como um marco de sinalização encaminhando o leitor para a Verdade e a Vida.[3]
Não basta ler. Precisamos ler com sabedoria. Deus nos dê graça e nos faça leitores que aprenderão para sua glória.
“Não te esqueças de nenhum dos Seus benefícios” (Salmo 103.2)
Livra-me, Senhor, da ingratidão! Livra meu coração de esquecer as muitas coisas boas que fizeste em minha vida. Não permita que as horas escuras me impeçam de reconhecer a tua bondade imerecida que tantas vezes me cercou. Tu me perdoaste tantas vezes, me curaste tantas vezes, me consolaste e cuidaste de mim em tantos momentos que sou incapaz de contar. Encheste minha boca de bens, livraste meus pés da morte.
Eu não quero esquecer nenhum de teus benefícios. O tempo passa e nossa memória se apaga. As bênçãos ficam para trás e então falamos e agimos como quem jamais conheceu teu amor. Ao invés de louvores há murmúrios, no lugar de submissão há rebeldia, revolta e não louvor. Recebi tantos bens, por que não posso suportar os momentos difíceis? Por tua graça estou em pé. Até aqui me ajudaste Senhor!
Não permita também, meu Deus, que eu esqueça todo bem que recebi de meus irmãos e das pessoas ao meu redor. É verdade, muitos me feriram, muitos me magoaram, muitos me desprezaram. Não fui tratado por todos como acho que merecia. Ainda assim, muitos me ajudaram, muitos me consolaram, muitos foram bons para mim. Que os maus não me façam esquecer os bons.
Ensina-me a ser grato, a reconhecer cada pessoa que em algum momento me ajudou, mesmo que essa pessoa em outro momento me feriu. Faze-me ver que não cheguei aqui sozinho, mas fui trazido ou mesmo carregado por pessoas que me amaram e acreditaram em mim.
Talvez eu ache que não merecia o mal que me fizeram, entretanto, também acho que não merecia todo o bem que recebi. E se me alegrei e desfrutei o bem imerecido, também posso suportar o mal injusto e ser grato por aquilo que indevidamente veio a mim.
Que a gratidão a Ti, meu Deus, e aos meus irmãos, possa ser manifestada por palavras e por gestos. Que eu Te louve e Te engradeça, agradecendo também àqueles que me ajudaram a triunfar. Que eu aprenda a contar cada benefício, das Tuas mãos e de outras mãos, e contando-os possa ser grato e me alegrar pela bondade que me cerca.
E por fim, que eu esqueça a ingratidão alheia, como espero que esqueçam também a minha ingratidão. Que cada mal se vá da minha memória como a areia que é levada pelo vento. E cada bem seja para sempre lembrado, produzindo louvor e gratidão. Amém!
Sou como um pelicano no deserto, um mocho na solidão (Salmo 102.6)
Existem lutas em sua vida para as quais Deus enviará ajuda eficaz. Pessoas que você nem conhece estarão ao seu lado, o exortarão, o aconselharão, darão palavras de Deus para você. Como Arão e Hur segurarão suas mãos pesadas até que a batalha termine. Isso já aconteceu e acontecerá outras vezes.
Entretanto, nem toda luta espiritual é assim. Muitas delas você terá de lutar sozinho, não haverá ninguém ao seu lado. Terá que experimentar a ajuda do próprio Deus e de mais ninguém. “Eu sozinho pisei no lagar, e dos povos ninguém se achava comigo” (Isaías 63.3). A sensação de abandono, de impotência, de fracasso e de perplexidade estará presente como o ar que você respira. Você achará estranho como pode o Deus que tantas vezes se mostrou tão presente e tangível, agora parece cego, surdo e insensível para o seu gemido e suas lágrimas.
São lutas interiores que ninguém pode compreender. Como Jacó no vau de Jaboque: Jacó, porém, ficou só e lutou com ele um homem até o romper do dia (Gênesis 32.24). Também Jó deve ter experimentado a mesma coisa. Perdera os filhos, a mulher não compreendia sua situação e aqueles que tentaram consolá-lo se mostraram ineficazes. O contraste entre muitos momentos em suas vidas e essas lutas solitárias parecia ser incompreensível. Estes homens, porém perseveram em suas batalhas e venceram.
Há lutas que são nossas, particularmente nossas, e importa para Deus que confiemos somente Nele e em mais nada, nem ninguém. Só Ele será a nossa força, só Ele será nossa vitória. Dependência total. Provavelmente foi isso que Davi quis dizer quando escreveu o Salmo 62: A minha alma encontra descanso somente em Deus, dele vem a minha salvação. Só Ele é a minha rocha e a minha salvação… (v. 1, 2).
Não se desespere. Sua luta solitária é a luta dos que estão com Deus. Há momentos que precisam ser assim e Deus sabe o porquê.
Eu, porém, Senhor, faço minha oração a ti num tempo aceitável (Salmo 69.13)
Somos chamados para obedecer a Deus em meio a uma humanidade imperfeita. Ainda que ele levante apoiadores abençoados no caminho que nos traçou, com certeza seremos desafiados constantemente pelos erros humanos. Inúmeras vezes ficaremos reféns de palavras e atos das pessoas. Correremos o sério risco de tomar nossas decisões e fazer nossas escolhas, não de acordo com aquilo que Deus quer, mas reagindo ao que alguém disse ou fez.
Sim. Pessoas nos afrontam, nos magoam, nos traem, nos negam. Pessoas nos esquecem, nos agridem, nos repelem. Inúmeras vezes pagam o nosso bem com mal, nos rejeitam e nos lançam para fora de suas vidas. Fazem isso porque são pessoas e sentir-se ferido em nosso coração faz parte da vivência de cada um. E, no entanto, isso não é o fim.
Os onze irmãos de José o rejeitaram. Inúmeras vezes Moisés viu o povo ao qual devotara sua vida, voltar-se contra ele. Até mesmo seus irmãos, Miriam e Aarão, procuraram usurpar sua liderança. O pai e os irmãos de Davi o desprezavam e o rei Saul tentou matá-lo apesar de Davi tê-lo servido com fidelidade. Marcos abandonou Paulo em sua primeira viagem missionária e os coríntios, pessoas que haviam conhecido a verdade através de seu ministério, voltarem-se contra ele por instigação dos judaizantes. Ninguém escapa das dolorosas feridas produzidas pela falibilidade humana. E ainda assim, sem a menor prova de dúvida, podemos afirmar que Deus é Senhor de nossas vidas.
Não deixe que a falha de outras pessoas produza falha em você. Não deixe que o erro de outros o faça errar. Não permita que seus passos sejam desviados do caminho do Senhor, por pessoas que não estão agindo no Senhor. Deixe que o Espírito de Deus, que a Palavra de Deus e a vontade do Senhor determine as suas escolhas e mais ninguém.
Viva uma vida pautada pela vontade de Deus e não pelo erro alheio. Caminhe com o Senhor e pelo Senhor, não por uma humanidade que não sabe discernir entre a mão direita e a esquerda. É a Cristo, o Senhor, que você serve. Caminhe com tal firmeza e com tal submissão que pessoa alguma nesta terra seja capaz de desviar seus passos do propósito que o Senhor tem pra você.
Senhor, não quero ser líder, não quero estar à frente. Não quero superiores dizendo o que devo fazer. Não gosto de receber ordens, repreensões, cobranças. Enfada-me obedecer pessoas que muitas vezes me dão ordens incoerentes, inconsistentes, das quais discordo plenamente ou em parte. Dói-me obedecer regras que não criei e seguir diretrizes que não tracei. Quero ser livre em minhas escolhas, completamente livre, sem restrições, limitações, proibições. Mais fácil é sentar-me em meu banco e cobrar de outros os resultados e frutos.
Não quero conduzir pessoas, que nem sempre são mansas como ovelhas, mas geralmente indócis como cabras selvagens. Não quero estar na frente, pois serei criticado por cada falha e esquecido em cada sucesso. Pesarão todas as minhas palavras e julgarão todos os meus atos. Viverei sempre no tribunal do povo, sentado ao banco dos réus. Terei expectativas que não serão atendidas e estabelecerei metas que não me ajudarão a concluir. Todos lançarão sobre mim suas muitas e grandes expectativas e quanto eu não atendê-los se frustrarão comigo e me condenarão. Terei de assumir tarefas que não são minhas e resolver problemas que não criei. Além dos meus já muito e pesados fardos, acrescentarei outros infinitos que não me pertencem.
Por tudo isto, meu Deus, minha carne me ordena a dizer “não” ao teu chamado, ou pelo menos ignorá-lo como se não fosse para mim. Meu enganoso coração diz que não posso, que não consigo, que é difícil e impossível, que não tenho tempo, nem recursos. Diz-me que vou falhar, que vou cair, que vou parar. Olho para o lado e procuro irmãos que são mais aptos e qualificados. Olho para frente e penso que talvez algum dia, mas não hoje….
Todavia, algo em mim não cala… Há uma voz, às vezes suave e às vezes firme, que me mostra algo diferente, o outro lado da questão…
Vejo pessoas sem direção como ovelhas sem pastor. E elas seguem para abismos escuros e espinhentos, mas não há quem as conduza a caminhos seguros. Ovelhas que rapidamente mudariam seus rumos se ouvissem alguma voz, mas não há quem grite. Vejo vidas errando sem luz, caindo sem apoio e chorando sem qualquer consolo. Estão doentes e não há quem as cure, perdidas sem que ninguém as busque. Estão famintas e sedentas, de pão e água também, mas de algo mais. Quão grande é a seara! Quão poucos são os ceifeiros!
E tu tocaste com teu fogo meus lábios, ungiste minhas mãos com teu óleo, acendeste em meu coração tua chama, deste-me teus dons e chamado. Encheste-me de tua glória a ponto de Transbordar. Deste-me teu poder e, poder, eu bem sei, é responsabilidade. Não posso negar o que sou e o que tenho em Ti. Não posso calar como quem não te ouve, nem me acomodar como quem não viu tua glória. Não posso enterrar o talento, nem deixar no fundo das águas o machado que tu me emprestaste. Pecarei se não fizer o bem que posso.
Portanto, ó Soberano Senhor, dos céus e da terra, já não posso conter teu fogo em mim, nem manter calada minha boca se meu coração está cheio de Tua Palavra. Não posso calar como os demais, nem dormir no fundo de um navio enquanto a tempestade assola e uma cidade inteira perece. Não posso receber tanto de teu Espírito e comer tanto de teu Pão e ao mesmo tempo permitir vidas oprimidas, vazias e famintas ao meu lado. Não posso, Senhor, não posso. Não posso mais conter meu espírito e nem o Teu. Lágrimas vêm ao meu rosto, meu peito aperta por causa do teu chamado. Tua voz agora soa como trovão e tudo o que tenho e sou, dobra-se diante de ti neste instante. Por isso, olho para os céus, ergo ao teu trono minhas mãos e na mais profunda agonia grito:
EIS-ME AQUI SENHOR! ENVIA-ME A MIM!
NÃO SEJA FEITO O QUE EU QUERO, MAS O QUE TU QUERES!